sexta-feira, 27 de junho de 2008




domingo, 8 de junho de 2008

*La Bruja y su Mundo




O mundo, vasto território que na sua maioria permanece imperceptível,desconhecido, esquecido ou ignorado por quase todos. Dele apenas 30% (com sorte!), é visto, e utilizado. Conhecer ou saber dele, apenas o que for útil de imediato ou parte do percurso cotidiano.
Geralmente nos atemos a pensar que somos sábios sobre ele, o mundo, porque existe a mídia, porque somos graduados, pós-graduados, mestrados,doutorados...
Aí, no meio desse saber todo, onde a especialização segmentou-se milhares de vezes, e ser especialista em assuntos remotos ou impronunciáveis, é de suma importância, surge a figura hermética, estranha, desconexa do meio e "modus vivendi", confiável: a nossa! A da Bruxa ou Bruxo.
Sendo fêmea, empregarei o uso do gênero feminino, sem intenções excludentes.
Tecendo mistérios, desconfianças, medos, criou-se a idéia de que bruxas,para sê-lo devem andar somente à noite, de preto, com aspecto sisudo, ou arrepiante, possuir um olhar ameaçador, morar em casas isoladas, obscuras, sujas, com conteúdo sofrível e soturno.
Ela pula, do livro de estórias, assim travestida em um ser medonho, despenteado, sujo, malévolo, sem começo nem meio, mas com um fim, certamente triste ou merecedor de danação eterna, para a felicidade, de quem com ela conviveu.
Não somos, isso, nem a forma oposta, a Bruxa 'oba-oba', saída de uma 'farmer' coletiva, hippye, levitando constantemente, com sorrisos bobos, e meias frases sem sentido, proferidas com ar de transcendência, e profundidade inexplicável."
Sim, então como é A Bruxa e seu Mundo?
Bem menos complexo de entender do que se supõe...
A Casa em termos físicos, palpáveis, materiais, difere certamente de uma casa, 'convencional', por assim dizer. Móveis e objetos, possuem uma outra significância, não estão por aí ao acaso, ou por ordem do decorador pessoal de cabeceira... Eles agem simbioticamente com os demais, de acordo à energia da dona, do estudo que ela fez quanto a essa energia, para claro, torná-la favorável ao ambiente dessa casa e de quem a visita, e mora lá.
Artefactos de decoração, podem ser apenas isso, decoração, mas outros possuem pequenas histórias pessoais, amarradas intimamente à Bruxa, e que ela presenteia aos visitantes, de forma silenciosa, ao deixá-los ali,expostos; caixinhas de madeira que em seu interior guardam decks maravilhosos de tarot; ou se na cozinha, ervas secas que logo mais, estarão sendo degustadas, ou transformadas em banhos de alegria, de cheiro... Sinos dos ventos, feitos em noites sem sono, ou em meio a bate-papos sem roteiros; almofadões recheados de ervas, carregados de cores, cores que ativam o
melhor em nós... Caixas de incensos compradas em feiras livres, ou naquela viagem onde demos de cara com uma lojinha encantadora, que deixou mais do que lembranças...
Pedras, nem sempre belas, mas que trazem consigo aquele momento a solo, onde ao refletir sobre a própria existência, concluímos que somos o que desejamos e pronto, ou partimos para outros caminhos...
Vassouras deixadas a esmo em cantos, ou penduradas sobre as portas, despertando curiosidade, e que nasceram das nossas mãos, em meio a caminhadas onde gravetos e outras coisinhas ao juntar-se deram forma a elas.
Vasos com lindas flores, folhagens, que emanam odores nem sempre ao gosto do freguês, mas que são muito mais do que vasinhos decorando, são catalizadores de energias, são doadores de bons fluidos... Vasinhos de pimenta vermelha, de cheiro, dedo de moça, murici (bem ardida), de arruda macho e arruda fêmea (escondidinhas para não morrer logo), de manjericão roxo e verde! De alecrim! E tudo isso, dentro, não no jardim, porque o jardim é outra coisa... É muita coisa.
Os materiais, com os quais se confecciona, móveis e objetos, ganham para a Bruxa relevância. Porque ela os entende como mais uma vez, energia em movimento, e a seleção deles pode triplicá-la ou anulá-la simplesmente.
Então a madeira, é cheirada, acariciada e testada (pode ser compensado maquiado, ou mdf!) perante o olhar desconfiado do vendedor da loja... Os tecidos, logo manuseados, e a marca do fabricante com a composição lida...pode ser apenas imitação de algodão.
É neurose? Não, é preocupação ambiental aliada ao bem-viver, aliada ao desejo de que madeira e tecidos durem muito, sejam de origem idônea e embelezem a casa!

As cores...Ah!.. Elas, as cores, são quesito importante, claro, ambientes tristes sempre vão de mãos dadas, com escolhas tristes, com as cores que usamos nos quartos, na sala, na cozinha, chega de amarelos 'caídos', de marrons desbotados, e de cinzas sem explicação. Mas nada de cores berrantes, onde escolhemos descansar, meditar, sonhar. Cores ativas onde sentimos que, ali sim deve haver muito movimento, ação e alegria.
Velas, seduzem a Bruxa!!! De todos os tamanhos, cheiros, cores, formas, e é para usar mesmo! Acompanhadas de castiçais simples ou rebuscados, comprados, ganhos, feitos, encontrados. Os encontrados, eles sempre escondem mais do que a forma, eles
possuem o mistério da origem e uso, principalmente quando os encontramos entre coisas da família... Eu tenho um assim, com um pequeno cupido como base e três receptáculos para velas acima dele, em prata, da minha avó. Vivia escuro, e parecia que pedia auxilio...o limão veio e o deixou reluzindo...mas nunca soube o que ele fez antes, e com quem!
Livros, não são apenas livros, na casa da Bruxa, eles são inesgotável fonte de prazer...e de saber, lógico. E não costumam ficar muito tempo parados, ou viram meio de troca, por outro livro, ou sempre serão lidos e relidos. Teias de aranha não aparecem nas estantes desta casa. E nelas, nas estantes, mais coisinhas com significados pequenos e grandes...
Bruxinhas ganhas, daqueles que nos sabem Bruxas, e acham super pertinente que ganhemos bruxas sempre...bem que podiam mudar o menu...porque há tanto nesse vasto
universo que agrada a Bruxa!!!
Pequenos mimos em origami, com papel colorido, que nossas crias fizeram e trouxeram como 'tesouros'. Quadros por eles executados, e que aos nossos olhos são mais do que traços de aquarela, pois podem estar nos dizendo algo, algo valioso nesse belo código que é a arte. Fora que sempre haverá neles, nos quadros, porções da essência dos nossos filhos...
Mandalas formosas sutilmente impelindo a harmonia e a paz... Pentâculos de cobre, madeira, cerâmica, triskles pirografados, desenhados, porque queremos que a simbologia e seu significado consagrem nossos espaços.
Colheres de pau decoradas, e que sem saber o seu sentido e uso para nós, a "tia da escola" ajudou a fazer, e hoje ficam lá na minha cozinha.
Imagens de deuses e deusas, passeiam pela casa da Bruxa, não ficam estagnados naquela prateleira dedicada a objetos que coletamos em viagens ao exterior...ou em compras por encomenda, não, elas visitam os cômodos, de acordo ao nosso estado de ânimo, e ao redor delas, montamos altares, altares interativos, belos, singelos, ou extremamente elaborados...E com utilidade imediata. Pois nossos altares, são isso mesmo 'consumíveis', não somente para agradar aos olhos ou compor o ambiente. Neles brilham as chamas das velas, incensos perfumam o ar, oferendas vão e vêm lá. Flores e pedras também têm o seu lugar.
As cozinhas, mantemos arejadas, muito limpas" e arrumadas. Potes de temperos ganham desenhos especiais; pontos de luz e energia, feitos com sal grosso, ervas (sálvia, tomilho, alecrim...) e cabeças de alho, bem localizados, tomam conta de muitos recantos. Pauzinhos de canela enfeitam e atraem abundância, em pequenos caldeirões ou xícaras. O fogão dorme coberto com um paninho de prato especial, presenteado, por uma amiga, grande bruxa, de outros tempos, a Bete, companheira de divagações, antes da vida de bruxa casada. Com delicados pontos de cruz, prenunciando bons augúrios, para a casa que um dia iria habitar. Aliás, foi ela quem me apresentou o mundo do
tarô, quando eu nem imaginava que um dia eu seria uma taróloga, mas como ela nenhuma.
Bagunça, nunca, nem poeira, nem sujeira, e isso, não sei qual a razão, pois foge à minha vã filosofia, é tão complicado de entender por minha secretaria, a quem quero bem... Então se tornou ensino diário, mostrar como é saudável e bom, casa arrumada e limpa. Casa cheirosa, e leve, casa sem limo, sem lixo, e com lixo orgânico separado daquele que teima em não se decompor.
Vinhos não podem faltar, onde já se viu, Bruxa sem adega? Ou pelo menos com um bom estoque de garrafas de vinho? Por ser bem básico, nos afazeres ritualísticos, não pode faltar... E taças, de todos os tamanhos e formas, entre tanto eu prefiro aquelas grandes, com cristal sonoro. Há quem pense que somos mineiros, pois pedras andam como que jogadas, esquecidas em mesas, jardins, prateleiras...mas é que cristais, são parte do mundo, daquele mundo que não vemos, mas que podemos sentir ao tocá-los.
Assim como as inúmeras caixas de incensos (viva os de massala!) perfumando mesmo sem estar acesos.De todos os tipos e origens,os indianos,os nacionais,os franceses ( Terre d'Oc), os japoneses, os chineses... Sou viciada neles, e em colecionar Tarôs...Caixas com eles bem guardadinhos decoram quase toda a casa.
Música acompanha a Bruxa pelos corredores e recintos da casa. Música de todo tipo. Variando com as marés que vivenciamos. Música dentro e fora da Bruxa.

Algumas somos ou não "naturebas", como diz o povo; vegans, ou mais conscientes quanto à nossa mesa, ao que a ela vêm. E isto atrelado a uma prática eco-espiritual, pois entender a dinâmica da Terra Mãe, e como lidar com ela, é por demais interessante no mundo das Bruxas. Quiçá por isso, os jardins detêm um certo poder de captar nossa total atenção, em amanheceres ou anoiteceres. Qual Bruxa não degustou, com extremo prazer, ficar deitada na grama à noite? Ou andar descalça, nela orvalhada pala manhã?
No quesito alimentação, temos o hábito de ler, com acuidade, etiquetas e marcas, ler e entender essa complexa linguagem que empregam para dizer e listar ingredientes e compostos. Por saber quão sagrado é nosso corpo. E como pode ser fatal e acumulativa a ingesta de produtos saturados quimicamente. Porém tudo sem extremos e medos renitentes, que possam nos tornar psicóticas...ou maníacas por doença. Até porque, normalmente, somos muito saudáveis as Bruxas, e empregamos muito do que em nosso jardim floresce no preparo de comidas, chás e, vejam só, em tratamento cosmético da
nossa beleza!
Assim sendo, nossos jardins, são bem cuidados e cultivados. Neles, celebramos nossos rituais, nossos encontros familiares, nossos momentos de leituras e divagações. Os decoramos com gnomos, caracóis, cogumelos, tartarugas, sapinhos, de cerâmica, de madeira. Mesas e cadeiras, ficam lá, dia e noite, esperando por horas do chá, por encontros sob a Lua, regados a vinho...Por crianças correndo e brincando ao redor delas.
Na casa da Bruxa pode haver crianças! Não as comemos no jantar, e sim fazemos o seu jantar! Elas, as herdeiras da Bruxa, também cuidam dos seus cômodos, no estilo da Mãe Bruxa, com magos, bruxas, fadas, caldeirões e,algumas vezes, cartas de tarô, compondo o universo infantil dos pequenos pagãos, que acompanham a Bruxa em seus ritos, em suas práticas de limpeza da casa, em suas danças circulares, que os atraem com imãs.
Se somos internéticas? Somos, pelo menos muitas. E assumimos sem vergonhas! Então nesta casa mágica, há o espaço onde mora o importante PC...com sua acompanhante a impressora. Mas nesse canto também se toma cuidado com o ambiente, com os fluidos, e suas ações. Quantas amizades verdadeiras teci usando esse PC? Verdadeiras? Poucas, porém profundas. Quantas pessoas maravilhosas conheci? Muitas, e que posso torná-las amigas verdadeiras. Sem o PC como conheceria eu a Siu (minha mamy da alma)? A Bel? Minha irmã-amiga-mãe? O Derevian, meu Dragón, que me dá força quando mais preciso?
O Vulcanus, que levanta a poeira desde lá do outro lado do mundo? Mi jefecito, o zar Drake? Que tirou tantas dúvidas espirituais e mitológicas da minha mente. Minhas amigas? As Bruxas de verdade, com as quais troco figurinhas? (Pietra, Dani, Inês, Kytanna, Rita, Katha, a Lú)... O Malhado, meu Guapo, e nossas infindáveis trocas de e-mails? E mais outras tantas pessoas que valorizam o que escrevo, que manifestam seu apreço... Sim, o PC e a banda larga, são coadjuvantes das Bruxas. Pois, mediante esses contatos, conheci em pessoa o Laurus, sentei com ele à minha mesa, sentei com
ele no meu jardim, tomamos cafezinho e papeamos muito...

Guarda-roupas, guardam mais do que roupas...Mas sempre em ordem e higiene, pois lá ficam nossas peças mais íntimas, aquelas que entram em contato direto com nosso corpo, com nossa pele, com nossa "persona". Guarda no meu quarto, meu lindo Livro Secreto, conhecido por outros como o das Sombras; presenteado por um ser querido, que lembra o nome de um filme:
Nunca te vi, sempre te amei...O Júlio César, livro que viajou longas jornadas até chegar aqui. E que trouxe consigo um pouco do Júlio (a sua arte, a sua labuta para confeccioná-lo) e seu amor.
Perfumes, águas de cheiro, apetrechos de beleza, porque somos vaidosas e belas, as Bruxas de hoje, as Bruxas de verdade.
Há, na casa da Bruxa e no seu mundo, todos os sentimentos, do amor à raiva, pois não cultivamos a premissa de manter acorrentadas as emoções, para "parecer" melhores pessoas. Somos melhores pessoas por saber lidar com essas alterações de humor e
alma. No mundo da Bruxa, a casa é seu mundo, e o mundo é a sua casa. Nesse mundo não há divisões especializadas, há o todo, há o cada, mas sem separatismos, sem segmentações, onde a essência do viver e saber viver se perdem. Nesse mundo, o mundo da Bruxa, o concreto e o invisível coexistem tranqüilamente e com credibilidade; o real, palpável e o "outro mundo" são respeitados plenamente e reverenciados.
No nosso mundo, somos nós os roteiristas e jamais responsabilizamos aos demais pelas péssimas escolhas que fizemos ou faremos, mas saímos desses processos mais "pessoas", mais "bruxas".
Somos especiais? Claro que sim, porque do nosso olhar nada escapa, nem dos nossos sentidos. Então o mundo é por nós apreendido de forma mais sutil e completa do que por outros olhos... A vantagem disso? Saber mostrar esse mundo aos outros. Ou quem sabe compartir nosso mundo com quem o deseje.
A Bruxa e seu mundo são simples e complexos, mas nada soturnos, nem amedrontadores. Eis, creio eu, um mundo gostoso de ser vivido.
Besos de La Bruja en su Casa!

Luciana Onofre
São Luis, MA. 20/05/2007