segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

(Morte e Vida Severina)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Menina "boazinha"!? Eu?!! Jamais, cherie!!

"Qual é o elogio que toda mulher adora receber? Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns 700: mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais. Diga que ela é uma mulher inteligente e ela irá com a sua cara. Diga que ela tem um ótimo caráter, além de um corpo que é uma provocação, e ela decorará seu número. Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito, da sua aura de mistério, de como ela tem classe: ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa. Mas não pense que o jogo está ganho: manter-se no cargo vai depender da sua perspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta. Diga que ela cozinha melhor que sua mãe, que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades, que ela é um avião no mundo dos negócios. Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade, seu bom gosto musical. Agora, quer ver o mundo cair? Diga que ela é muito boazinha.
Descreva aí uma mulher boazinha:. Voz fina, roupas pastéis, calçados rentes ao chão. Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja, cuida dos sobrinhos nos finais de semana. Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor. Nunca teve um chilique. Nunca colocou os pés num show de rock. É queridinha. Pequeninha. Educadinha. Enfim, uma mulher boazinha.
Fomos boazinhas por séculos. Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas. Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos. A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas, crucifixo em cima da cama, tudo certinho. Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um desejo incontrolável de virar a mesa. Quietinhas, mas inquietas.
Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas. Ninguem mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrizes, estrelas, profissionais. Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen. Ser chamada de patricinha é ofensa mortal. Pitchulinha é coisa de retardada. Quem gosta de diminutivos, definha.
Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa. Ser boa é bom. Ser boazinha é péssimo. As boazinhas não têm defeitos. Não tem atitude. Conformam-se com a coadjuvância. Ph neutro. Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções, é o pior dos desaforos.
Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas, apressadas: é isso que somos hoje. Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos. As "inhas" não moram mais aqui. Foram pro espaço, sozinhas".

(Martha Medeiros)

domingo, 30 de novembro de 2008


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

INTEIRA

Iluminada por oráculos
alimento anjos com asas quebradas.

Não é de vendaval que eu preciso
mas da língua do amor guardada à beira mar.

Não entendo de círios
mas de verões e sargaços bailarinos.

Acolhida pela província,
arrisco-me a enlaçar orquídeas em árvores.

Sempre sofri.
Sempre tive febre.
Sempre estive inteira em todos os infernos.
Nunca quis ser abandonada.
Mas aprendi a perder.
O naufrágio me ensinou a ternura dos afogados.

(Inteira - Marize Castro)

domingo, 19 de outubro de 2008

Porque cantamos


Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel

você perguntará por que cantamos

se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha

você perguntará por que cantamos

se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro

você perguntará por que cantamos

cantamos porque o rio esta soando
e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino

cantamos pela infância e porque tudo
e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos

cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota

cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta

cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.

Mario Benedetti

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vida verdadeira


Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.

Vida que não se guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor.

Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolado de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.

Thiago de Melo

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Canção X




Canção X

Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

Hilda Hilst
(1930-2004)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Hasta la victoria, compañera Celia Hart




Celia, un huracán militante
Néstor Kohan

Es una pérdida enorme. Nos parece mentira. Celia Hart Santamaría acaba de fallecer junto con su hermano Abel en un accidente automovilístico en La Habana. Nos enteramos anoche. Pablo Kilberg, incansable amigo de la revolución cubana y de Celia (que son lo mismo), nos llamó y nos dio la triste noticia. ¡Justo ahora, cuando ella hacía más falta que nunca! Mucha impotencia. Una sensación muy fea en la boca, en la garganta, en el estómago.

Todo el mundo la presenta como “la hija de”. No está mal. Su mamá fue Haydeé Santamaría Cuadrado [1922-1980], militante revolucionaria, emblema y símbolo de la revolución cubana, compañera de Fidel Castro desde los primeros días, asaltante del cuartel Moncada, fundadora de Casa de las Américas. Su papá, Armando Hart Dávalos [1930-], dirigente histórico de la revolución cubana, fundador del Movimiento 26 de julio también junto a Fidel, ministro de educación de la revolución e inspirador de su célebre campaña de alfabetización. Además de sus padres, Celia contaba entre sus familiares con Abel Santamaría Cuadrado [1927-1953], colaborador político de Fidel desde antes del golpe de estado de Batista, luego asaltante del cuartel Moncada, capturado vivo, torturado y asesinado por la dictadura de Batista.

Pero Celia era mucho más que “la hija de” o la “sobrina de”. Tuvo, tiene y tendrá una luz y un brillo propio. ¿A quien le cabe duda?

Trabé relación con Celia a través de su padre. Fue Armando quien más nos insistió con la necesidad de conocer a Celia. Había entre ambos, padre e hija, una relación muy fuerte, afectiva y emotiva pero también intelectual y política. Todo escritor, cuando escribe, tiene en mente un diálogo con alguien. Me animo a decir que Armando era uno de los interlocutores imaginarios de Celia, al igual que Fidel Castro. Siempre tenía en mente sus opiniones, en un diálogo real o imaginario. Cada vez que Celia me escribía, confesaba: “me imagino lo que estará pensando mi padre” o “lo que debe pensar Fidel de esto que estoy diciendo”, “estoy segura que a Fidel le debe encantar”.

Llegué a Celia por intermedio de Armando. Hace más de una década, en medio del desierto moral e intelectual de los años ’90, durante el reinado feroz e implacable del neoliberalismo en todo el mundo, Armando Hart nos escribió después de leer un trabajo sobre Marx y el tercer mundo publicado en la revista Casa de las Américas. Entusiasmado como un chico, nos envió una conferencia suya sobre el Manifiesto comunista. Al intercambio de cartas y trabajos siguió el encuentro personal, gracias al amigo y compañero Fernando Martínez Heredia, igualmente guevarista como padre e hija.

El vínculo con Armando se estrechó. Él nos prologó un libro sobre el marxismo latinoamericano que lamentablemente hasta ahora no se publicó en Cuba (aunque ya estaba diagramado y listo). Tuve a su vez el honor de prologarle un libro suyo sobre Marx, Engels y la condición humana. Luego, en una de sus visitas a la Argentina , Armando Hart vino como expositor a la Cátedra Che Guevara. En esas conversaciones con el padre, además de Martí, Ingenieros, la Reforma Universitaria , Mella, Guiteras y Fidel, de Marx y Engels, del Che y Freud, siempre salía el tema de su hija Celia. Era recurrente. Armando le tenía una admiración que jamás ocultó. Nos decía, una y otra vez: “Celia es como Haydeé [la mamá de Celia], pero ahora en tiempos del posmodernismo”.

La primera vez que la vi, Celia no comenzó hablando de la revolución latinoamericana, de Fidel, del Che o de Lenin, Trotsky y los bolcheviques. ¡No! Cuando todavía no habíamos abierto la boca, las primeras palabras que nos dijo, con una sonrisa amplia de oreja a oreja, fueron: “Estoy muy celosa de tu relación con mi padre”. Así era ella, tremendamente irónica y tierna al mismo tiempo, profundamente humana, muy querible por sobre todas las cosas. La antítesis viviente del “aparato” impersonal que transforma la política de los revolucionarios en algo desalmado, frío, administrativo, burocrático. Repleta de afecto, de ternura, de humanismo, podíamos discutir sobre cualquier problema de la coyuntura latinoamericana, de Chávez, del futuro de Cuba, de los gusanos de Miami o de lo que sea, y en la mitad, siempre, invariablemente, intercalaba una broma, un chiste, una ironía o una alusión inesperada a un amor suyo, amigo mío. Celia hablaba, intervenía y escribía desacralizando, rompiendo los moldes y las consignas efectistas de volante, desoxidando las formas pétreas de los discursos acartonados y mustios de la izquierda tradicional. Era un torbellino de ideas. Hablaba a una velocidad increíble, a veces difícil de seguir. Generaba mucho entusiasmo en los jóvenes. Lo he comprobado en Cuba y también en Argentina. (hace muy poco tiempo, hermanos chilenos me decían que pensaban invitarla al país trasandino).

En estos años conversamos sobre muchas cosas, sobre acuerdos mutuos y también sobre matices diversos. Cuando la discusión se ponía fuerte, Celia me disparaba con una sonrisa: “Bueno, tú sabes que yo soy física de profesión”. Y ahí afloraba la risa. Nos aflojábamos y entonces seguíamos.

Celia jugó un papel enorme en la batalla de las ideas de los últimos tiempos, dentro y fuera de Cuba. A mi modesto entender, la palabra de Celia Hart fue muy útil y muy eficaz. Sirvió, como decimos en Argentina, para “abrir cabezas”, es decir, para hacer pensar. ¡Celia ayudó a pensar! Provocó a las distintas tribus de la izquierda latinoamericana obligándolos a escucharse mutuamente (una tarea nada fácil, por cierto).

A los comunistas tradicionales, formados en el mundo cultural de la Unión Soviética , los empujó contra la pared y los obligó a abandonar los prejuicios infundados y a leer, por fin, al “innombrable” y “demoníaco” León Trotsky, tantas veces borrado de fotos y de historias por la censura y también por la autocensura de varias generaciones educadas en el stalinismo. Aunque sea para discutirle, tuvieron que ponerse a leer a Trotsky. Alguno que otro reaccionó con encono, pero la mayoría adoptó otra actitud más suave y racional, tomó como un desafío el planteo de Celia y a partir de allí hubo que volver a pensar y repensar viejos dogmas, hoy apolillados y completamente ineficaces. ¿Quién podía acusar a Celia de desconocer el mundo cultural y político del Este europeo, afín a la URSS , aquel que se cayó con el muro de Berlín, si ella había vivido años y había estudiado física, precisamente, en la República Democrática Alemana (RDA)? ¿Quién podía acusar a Celia de ser “contrarrevolucionaria”, “quinta columna” o vaya uno a saber qué, si ella amaba —no sólo admiraba sino que amaba— a Fidel Castro?

A los trotskistas, latinoamericanos pero también europeos, Celia los increpó y les habló de Fidel y del Che sin pelos en la lengua, con argumentos políticamente rigurosos y también con amor. Les dijo, una y otra vez, que el internacionalismo no se declama en panfletos y revistas universitarias o en la retórica de salón, que la revolución cubana envió casi medio millón de combatientes internacionalistas a Angola y a toda América Latina. Celia los obligó a reclamar por la libertad de los cinco revolucionarios cubanos encarcelados en EEUU. Los interpeló, cada vez que pudo, para que abandonen fórmulas cristalizadas y puedan mirar con otros ojos, no tan prejuiciosos, a Cuba y a su revolución.

En el caso del maoísmo, algunos de sus dirigentes estaban muy enojados con Celia por sus críticas a Stalin (figura también cuestionada, dicho sea de paso, por Armando Hart Dávalos en un trabajo suyo donde comenta la famosa biografía de Isaac Deutscher, autor que le dio a leer a su hija desde muy joven). En la Habana , al secretario general de un partido maoísta argentino le presentamos a Celia para que conversara personalmente con ella y pudiera de esa forma comprender quien era y cómo pensaba, más allá de sus artículos, tal vez de esa manera se romperían algunos prejuicios.

Insistimos. La gran virtud de Celia ha consistido en que sus intervenciones, no siempre planificadas ni calculadas con serenidad (lo cual le generó no pocas angustias y dolores de cabeza cuando la prensa burguesa intentaba manipularla o tergiversarla), obligaron a la izquierda a pensar. ¡A pensar! Esa actividad no siempre practicada cuando la pretendida “ortodoxia” del marxismo (sea cual fuera la familia ideológica en cuestión, se pertenezca al guetto que se pertenezca) se transforma en un salvoconducto para rumiar y repetir frases hechas, sin reflexión propia ni pensamiento crítico.

En el mundo cultural de las izquierdas Celia era mirada como una “rara avis”. ¿Fidelista trotskista? ¿Crítica de la burocracia y el mercado y defensora a muerte de la revolución cubana? ¿Guevarista encendida que no acepta participar de homenajes oficiales e institucionales al Che? ¿Cómo es eso? ¡Qué me lo expliquen!... habrá pensado más de uno.

Lo que sucede es que las masacres y los genocidios militares de América Latina, perpetrados bajo mandato del imperialismo norteamericano, no sólo quemaron cuerpos y desaparecieron personas. También quemaron libros y pretendieron desaparecer pensamientos.

La propuesta iconoclasta y, en un punto, ecuménica, de Celia no partía de cero ni era producto de una nueva fórmula alquimista. Era un punto de llegada. Antes que ella lo propagandizara con su prosa tan personal, donde el brillo literario no era indiferente a la danza de las musas, otros compañeros habían intentado conjugar esa síntesis de tradiciones culturales y políticas diversas.

Por ejemplo, Michael Löwy, en su libro El pensamiento del Che Guevara de 1970 (ediciones varias), había intentado reivindicar al Che en su integridad —no sólo como guerrillero heroico sino también como pensador marxista de alto vuelo—, defender la revolución cubana y promover el guevarismo sin dejar de inspirarse en León Trotsky, en Rosa Luxemburg, en el joven György Lukács. Muy cerca de Löwy, el compañero Carlos Rossi [seudónimo] escribió dos años después, en 1972, La revolución permanente en América Latina (se puede consultar en amauta.lahaine.org). Allí Rossi analizaba toda la historia contemporánea de nuestra América desde las teorías del desarrollo desigual y combinado y la revolución permanente, mientras hacía suya la estrategia de lucha armada a escala continental de la revolución cubana y el guevarismo. Dos antecedentes inequívocos de las propuestas y los ensayos políticos de Celia.

Cuando Celia nos pidió el año pasado, en junio del 2007, que presentáramos en Argentina su libro Apuntes revolucionarios. Cuba, Venezuela y el socialismo internacional ([Buenos Aires, Fundación Federico Engels, 2007], colección de artículos suyos de internet, en gran parte publicados por nuestro común amigo y compañero Luciano Alzaga, quien mucho contribuyó a difundir el pensamiento de Celia y a hacerla conocida fuera de Cuba) se lo dijimos públicamente. Allí recordamos esos dos trabajos “olvidados”, previos al libro de Celia y precursores con treinta años de distancia del de ella. Lejos de cualquier petulancia o autosuficiencia, tan común entre algunos gurúes de la izquierda académica, ella ni se ofendió ni se enojó. No pretendía descubrir por enésima vez la pólvora. Con humildad extrema, casi exagerada, Celia respondió que ella se consideraba una “recién llegada” al mundo de la teoría política y social y reconocía que sus planteos hetorodoxos (se los mire por donde se los mire) no nacían de la nada, sino que prolongaban una tradición previa.

¡Esa era Celia! Ese gesto la pintaba de cuerpo entero. No necesitaba vanagloriarse de nada. Sencillamente porque tenía mucho para decir. Sólo los mediocres necesitan aferrarse a las formas, porque carecen de contenido propio. Esa noche, en la presentación de su libro, casi doscientos jóvenes desbordaron el lugar. Celia terminó hablando encaramada a una mesa, rodeada de un mar de militantes de diversas tribus de izquierda (no sólo argentina, hasta sandinistas había y Celia discutió con ellos, sin dejar de reivindicar la revolución de 1979). Ella sola logró reunir las diversas capillas de nuestra dividida izquierda, luego de años y años de hegemonía populista, reformista y posmoderna.

El propio Löwy hace referencia a Celia en su última investigación sobre el Che y el guevarismo actual. Cuando el investigador brasileño nos envió los borradores de un capítulo de su libro para recibir sugerencias y opiniones, le preguntamos: “¿No vas a incluir entre los guevaristas actuales al Frente Patriótico Manuel Rodríguez (FPMR) de Chile? ¿Y a Celia en Cuba?”. Igualmente, con la misma humildad, el historiador e investigador los incluye en la edición final. Sobre ella, Löwy hace referencia allí a “los escritos fogosos de Celia Hart” destacándolos entre las últimas expresiones del guevarismo contemporáneo (Véase Michael Löwy y Olivier Besancenot: Che Guevara: una braise qui brûle encore [Che Guevara una brasa que todavía quema] París, Mille et une nuits, 2007. Capítulo “La herencia guevarista en América Latina”. p. 153). Cuando ese libro ganó la calle, sus dos autores, inspirados en Trotsky pero también en el Che Guevara, fueron acusados inmediatamente —como si fuera algo gravísimo— de “guevaristas”...

Irrefrenable, repleta de entusiasmo militante, Celia escribía siempre con urgencia. Mandaba a sus amigos sus textos pidiendo observaciones de última hora, preguntaba en qué página de qué libro se encuentra tal o cual cita y así discutíamos, con franqueza, con lealtad, fraternalmente, sin dobles mensajes, sin calcular favores institucionales o conveniencias mezquinas.

El último intercambio que tuvimos fue sobre una subvariante del trotskismo argentino: el morenismo, corriente que la invitó por última vez a nuestro país. Cuando nos pidió nuestra opinión, volvimos a reiterarle lo que siempre le habíamos manifestado. Desde una posición de respeto por la abnegación de una militancia muchas veces sacrificada, considerábamos inocultable, y así se lo transmitimos a ella, la enorme distancia que separaba en el morenismo una retórica altisonante y una escritura encendida de una prolongada historia mundana, terrenal, en gran medida reformista. Le proporcionamos ejemplos concretos de la historia argentina que Celia no tenía porqué conocer. Conductas no siempre dignas ni decorosas que, a nuestro modo de ver, no derivaban de la “maldad” y menos de la “traición” individual de tal o cual dirigente político —por lo general esforzados y muy sacrificados— sino de una concepción y una estrategia política a nuestro modo de ver errónea, muchas veces acríticamente institucional y electoral.

A partir de este ejemplo puntual y de muchos otros interrogantes compartidos durante años, con Celia conversamos sobre las polémicas históricas que en su oportunidad enfrentaron a los partidarios de Nahuel Moreno con los de Mario Roberto Santucho, asesinado por la dictadura militar en 1976 (uno de los principales líderes del guevarismo en Argentina y en el cono sur latinoamericano —donde compartió trincheras y organizaciones con el chileno Miguel Enríquez, el uruguayo Raúl Sendic y los hermanos bolivianos Inti y Coco Peredo). Celia siempre me repetía la misma frase, me lo transmitió oralmente, cara a cara, en más de una conversación, y también por escrito: “Tú sabes, querido Néstor, que mi partido es el del Che Guevara y el de Robi Santucho”. Nunca me lo dejó de repetir.

Celia tenía insistencias. Una de ellas era la necesidad de diálogo real y unidad concreta entre las diversas izquierdas. No unidad con fracciones del poder sino unidad de las izquierdas, donde las diferencias no siempre son contradicciones antagónicas.

Por ejemplo, cuando en septiembre de 2007 el Colectivo Amauta y la Cátedra Che Guevara organizaron un corte de avenidas (Callao y Corrientes, en pleno centro porteño) y una clase pública en defensa de los presos políticos, Celia no falló. Junto a mensajes recibidos de todo el mundo, la extensa, emotiva y comprometida carta que Celia nos envió por los presos representó con dignidad la voz cubana en esa actividad unitaria, donde convergían corrientes muy diversas. Celia actuaba eludiendo cualquier tentación de guiarse por la razón de Estado. No tenía en mente ni priorizaba las relaciones diplomáticas entre el Estado de su país y el gobierno de Kirchner, sino que estaba más preocupada por la situación de los presos políticos argentinos entonces en huelga de hambre. Era lo más lógico.

Más tarde, el Colectivo Amauta y la Cátedra Che Guevara lanzaron la iniciativa de organizar un Seminario Guevarista Internacional para junio de 2008. Celia nos volvió a escribir. Nos contó que la habían invitado para inaugurar un monumento oficial al Che en la ciudad de Rosario (Argentina), donde junto a sectores de izquierda también concurrirían otros afines al gobierno de Kirchner y a corrientes de la socialdemocracia local. Según ella nos dijo, no aceptó aquella invitación. Nos aclaró que ella no buscaba lucirse haciendo “portación de apellido prestigioso”. Tampoco quería contactos oficiales del gobierno argentino ni le interesaban. Optó por apoyar la iniciativa del Seminario Guevarista Internacional pero con un planteo propio. Se ofreció a participar personalmente (viaje que no se pudo concretar pues los organizadores no oficiales no contaban con dinero para su pasaje) y además prometió batallar por convencer a los numerosos nucleamientos inspirados en el trotskismo para que apoyen la movida que se hacía en defensa del Che y de la revolución cubana. Le aclaramos que probablemente esas organizaciones no apoyarían, pero ella insistió y trató de convencerlos. Así se lo hizo saber a varios compañeros a quienes les envió cartas con sus reclamos. Delante de varias organizaciones piqueteras leímos su adhesión al evento, con gran entusiasmo.

¿Por qué Celia apoyó esta otra iniciativa? ¿Habrá sido por amistad personal? Sinceramente no lo creo. Estoy seguro que también tenía muchos amigos y admiradores en las filas afines al acto oficial. Quizás nos equivoquemos, pero sospechamos que su intención apuntaba siempre a sacar al Che del póster y la estatua, para recuperarlo como quien fue realmente, alguien indomesticable, que no generaba suspiros condescendientes o nostálgicos sino enojos, diatribas e incomodidades en la sociedad oficial y en las corrientes reformistas que tanto lo denostaron.

En la última conversación que mantuvimos antes de este desafortunado accidente, Celia me llamó por teléfono desde Buenos Aires. Había estado pocos días en Argentina. Cuando me dijo que no iba a poder participar esta vez de la Cátedra Che Guevara la insulté cariñosamente, dada la confianza mutua que teníamos. Pegó una carcajada. Volvió a pedir disculpas y de ahí en más la conversación derivó hacia los problemas de la política argentina y el debate latinoamericano sobre la insurgencia colombiana y los ataques de Uribe. Celia tampoco vaciló en ese tema. Empezó con el entusiasmo de siempre a defender a los hermanos y hermanas de las FARC colombianas y nos planteó su convencimiento de que hoy más que nunca la izquierda latinoamericana en sus diferentes variantes y grupos debería apoyar a la insurgencia. La interrumpimos recordándole que los teléfonos en Argentina están intervenidos por la policía y no convenía discutir sobre ese tema de esa manera. Se rió mucho cuando le dije que recordara que no estaba en Cuba, y que era mejor que retomara las prácticas de los tiempos en que su mamá y su papá tenían que cuidarse de los cuerpos represivos y de inteligencia. Ese fue nuestro último diálogo, hace apenas pocos días.

Así fue siempre Celia. Un tanque vietnamita ingresando en la embajada yanqui, un tanque soviético tomando por asalto Berlín. ¡Imparable! Nada la detenía. Un huracán de energía militante.

Nunca asumió ni le interesó una posición “decorativa”. Podría haber vivido cómoda, disfrutando, ajena a la política, de sus apellidos prestigiosos. Esa opción no la sedujo en lo más mínimo. Es más, estoy seguro que la despreciaba. Siempre su interés era militante, incluso si eso le traía “problemas” por los líos en que se metía. Sus palabras preferidas no eran “a ver cuando nos tomamos unos tragos” (aunque también los hemos tomado) sino que priorizaba invariablemente el debate político, las tareas, los desafíos militantes a escala continental, sin perder el humanismo cotidiano.

Nada de nostalgia por el pasado, toda la voluntad puesta hacia adelante. Quizás por eso Celia amaba tanto a Julio Antonio Mella, quien alguna vez escribió “Todo tiempo futuro tiene que ser mejor”.

Muy lejos geográficamente de Celia pero siempre muy cerca suyo en el corazón y en los ideales, le enviamos un abrazo enorme a su papá Armando Hart, a sus hijos, a toda su familia, a sus compañeros de Cuba y de todo el mundo, que tanto la quisieron y la querrán.



¡Querida compañera Celia, hasta la victoria siempre!



Buenos Aires, 8 de septiembre de 2008

Capitu




Capitu

De um lado vem você com seu jeitinho
Hábil, hábil, hábil
E pronto!
Me conquista com seu dom

De outro esse seu site petulante
WWW ponto poderosa ponto com

É esse o seu modo de ser ambíguo sábio, sábio
E todo encanto Canto, canto
Raposa e sereia
Da terra e do mar
Na tela e no ar

Você é virtualmente amada amante
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante

Um método de agir que é tão astuto
Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo
É só se entregar, é não resistir, é capitular

Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu

Ná Ozzetti

quinta-feira, 7 de agosto de 2008


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.Tem que ter brilho e tonalidade inquietante.A mim não interessam os bons espíritos nem os maus hábitos.Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.Deles não quero resposta, quero meu avesso.Que me tragam dúvidas, angústias e agüentem o que há de pior em mim.Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.Não quero amigos adultos nem chatos.Quero-os metade infância e outra metade velhice!Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.Tenho amigos para saber quem eu sou.Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

"Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o pão seja caro e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros e a tua pele, morena
como é azul o oceano e a lagoa, serena
como um tempo de alegria por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia no seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena".

"...não vou me deixar emputecer, eu acredito nos meus ideais...podem até maltratar meu coração, mas meu espírito ninguém vai conseguir quebrar..."

segunda-feira, 28 de julho de 2008

OXOSSI


dia da semana
quinta-feira

cores
verde

símbolos
arco e flecha (damatá), chicote (iruquerê)

elemento
terra

plantas
milho, jasmim-manga, carqueja, cróton.

animais
porco do mato

metal
latão

comida
axoxô, quibebe, milho cozido, tapioca, pamonha, canjica, frutas.

bebida
aluá, batida de mel

sincretismo
São Sebastião (20.1) ou São Jorge (23.4)

domínio
as matas, os animais silvestres

o que faz
protege contra perigos, castiga quem faz coisas erradas; protege os animais e plantas.

quem é
o Rei da Mata, o provedor de sustento, o vingador.

características
refinado, exigente, sensível, discreto, rancoroso

quizília
cabeca de bicho, (nos sacrifícios e alimentos) , ovo

saudação
Okê Arô !

onde recebe oferendas
na mata

riscos de saúde
problemas de olhos, boca, dores musculares, intestino

presentes prediletos
charutos, velas, mel, suas comidas e bebidas.

lendas:

(1)
Quando Oxum e Oxossi se conheceram, ele logo se apaixonou e quis casar com ela. Oxum concordou, mas impôs a condição de que ele fosse com ela para a mansão de seu pai disfarçado de mulher, para não ter a entrada impedida. Oxossi aceitou, sem perguntar se isso lhe traria problemas. Então Oxum o transformou em mulher e eles foram juntos para o palácio. Lá, Oxossi foi muito bem recebido, pois foi apresentado como uma amiga de Oxum; e assim os dois puderam viver juntos por muito tempo. Meses depois, Oxum não pôde mais esconder a gravidez; Oxalá descobriu a verdade e expulsou Oxossi do palácio. Por ter se transformado em mulher, Oxossi se tornou bissexual; e seu filho, Logunedê, também.

(2)
Oxossi era ajudante do irmão Ogum e carregava suas flechas. Certo dia, numa das caçadas, encontrou o irmão Ossain, que vivia na floresta e era um mago. Ossain enfeitiçou-o e Oxossi ficou servindo a ele por algum tempo. Quando o efeito do feitiço passou, Oxossi quis voltar para casa, mas a mãe Iemanjá não o aceitou. Então, Oxossi voltou para a mata e foi morar com Ossain, que lhe ensinou todos os mistério da floresta e de seus habitantes. Desde então, Oxossi se tornou um grande caçador, passando a garantir a alimentação da família e defendendo animais e plantas de pessoas que matam sem necessidade.

(3)
Odé era um grande caçador. Certo dia, ele saiu para caçar sem antes consultar o oráculo Ifá nem cumprir os ritos necessários. Depois de algum tempo andando na floresta, encontrou uma serpente: era Oxumaré em sua forma terrestre. A cobra falou que Odé não devia matá-la; mas ele não se importou, matou-a, cortou-a em pedaços e levou para casa, onde a cozinhou e comeu; depois foi dormir. No outro dia, sua esposa Oxum encontrou-o morto, com um rastro de cobra saindo de seu corpo e indo para a mata. Oxum tanto se lamentou e chorou, que Ifá o fez renascer como Orixá, com o nome de Oxossi.

(4)
Certa vez, no reino de Ifá, surgiu um pássaro enorme que, voando bem no meio da cidade, não deixava que o povo fizesse as festas do tempo da colheita. O rei convocou todos os arqueiros do reino, que usaram todas as suas flechas sem conseguir espantar o animal; e por isso foram executados. O último a comparecer tinha somente uma flecha mas sua mãe, com medo de que ele fosse condenado à morte, consultou Ifá e soube que o filho devia fazer uma oferenda aos deuses antes de tentar a sorte. O rapaz obedeceu e, com sua única flecha, matou o monstro. O rapaz foi muito aclamado pelo povo e passou a se chamar Oxossi, o grande caçador.

sexta-feira, 27 de junho de 2008




domingo, 8 de junho de 2008

*La Bruja y su Mundo




O mundo, vasto território que na sua maioria permanece imperceptível,desconhecido, esquecido ou ignorado por quase todos. Dele apenas 30% (com sorte!), é visto, e utilizado. Conhecer ou saber dele, apenas o que for útil de imediato ou parte do percurso cotidiano.
Geralmente nos atemos a pensar que somos sábios sobre ele, o mundo, porque existe a mídia, porque somos graduados, pós-graduados, mestrados,doutorados...
Aí, no meio desse saber todo, onde a especialização segmentou-se milhares de vezes, e ser especialista em assuntos remotos ou impronunciáveis, é de suma importância, surge a figura hermética, estranha, desconexa do meio e "modus vivendi", confiável: a nossa! A da Bruxa ou Bruxo.
Sendo fêmea, empregarei o uso do gênero feminino, sem intenções excludentes.
Tecendo mistérios, desconfianças, medos, criou-se a idéia de que bruxas,para sê-lo devem andar somente à noite, de preto, com aspecto sisudo, ou arrepiante, possuir um olhar ameaçador, morar em casas isoladas, obscuras, sujas, com conteúdo sofrível e soturno.
Ela pula, do livro de estórias, assim travestida em um ser medonho, despenteado, sujo, malévolo, sem começo nem meio, mas com um fim, certamente triste ou merecedor de danação eterna, para a felicidade, de quem com ela conviveu.
Não somos, isso, nem a forma oposta, a Bruxa 'oba-oba', saída de uma 'farmer' coletiva, hippye, levitando constantemente, com sorrisos bobos, e meias frases sem sentido, proferidas com ar de transcendência, e profundidade inexplicável."
Sim, então como é A Bruxa e seu Mundo?
Bem menos complexo de entender do que se supõe...
A Casa em termos físicos, palpáveis, materiais, difere certamente de uma casa, 'convencional', por assim dizer. Móveis e objetos, possuem uma outra significância, não estão por aí ao acaso, ou por ordem do decorador pessoal de cabeceira... Eles agem simbioticamente com os demais, de acordo à energia da dona, do estudo que ela fez quanto a essa energia, para claro, torná-la favorável ao ambiente dessa casa e de quem a visita, e mora lá.
Artefactos de decoração, podem ser apenas isso, decoração, mas outros possuem pequenas histórias pessoais, amarradas intimamente à Bruxa, e que ela presenteia aos visitantes, de forma silenciosa, ao deixá-los ali,expostos; caixinhas de madeira que em seu interior guardam decks maravilhosos de tarot; ou se na cozinha, ervas secas que logo mais, estarão sendo degustadas, ou transformadas em banhos de alegria, de cheiro... Sinos dos ventos, feitos em noites sem sono, ou em meio a bate-papos sem roteiros; almofadões recheados de ervas, carregados de cores, cores que ativam o
melhor em nós... Caixas de incensos compradas em feiras livres, ou naquela viagem onde demos de cara com uma lojinha encantadora, que deixou mais do que lembranças...
Pedras, nem sempre belas, mas que trazem consigo aquele momento a solo, onde ao refletir sobre a própria existência, concluímos que somos o que desejamos e pronto, ou partimos para outros caminhos...
Vassouras deixadas a esmo em cantos, ou penduradas sobre as portas, despertando curiosidade, e que nasceram das nossas mãos, em meio a caminhadas onde gravetos e outras coisinhas ao juntar-se deram forma a elas.
Vasos com lindas flores, folhagens, que emanam odores nem sempre ao gosto do freguês, mas que são muito mais do que vasinhos decorando, são catalizadores de energias, são doadores de bons fluidos... Vasinhos de pimenta vermelha, de cheiro, dedo de moça, murici (bem ardida), de arruda macho e arruda fêmea (escondidinhas para não morrer logo), de manjericão roxo e verde! De alecrim! E tudo isso, dentro, não no jardim, porque o jardim é outra coisa... É muita coisa.
Os materiais, com os quais se confecciona, móveis e objetos, ganham para a Bruxa relevância. Porque ela os entende como mais uma vez, energia em movimento, e a seleção deles pode triplicá-la ou anulá-la simplesmente.
Então a madeira, é cheirada, acariciada e testada (pode ser compensado maquiado, ou mdf!) perante o olhar desconfiado do vendedor da loja... Os tecidos, logo manuseados, e a marca do fabricante com a composição lida...pode ser apenas imitação de algodão.
É neurose? Não, é preocupação ambiental aliada ao bem-viver, aliada ao desejo de que madeira e tecidos durem muito, sejam de origem idônea e embelezem a casa!

As cores...Ah!.. Elas, as cores, são quesito importante, claro, ambientes tristes sempre vão de mãos dadas, com escolhas tristes, com as cores que usamos nos quartos, na sala, na cozinha, chega de amarelos 'caídos', de marrons desbotados, e de cinzas sem explicação. Mas nada de cores berrantes, onde escolhemos descansar, meditar, sonhar. Cores ativas onde sentimos que, ali sim deve haver muito movimento, ação e alegria.
Velas, seduzem a Bruxa!!! De todos os tamanhos, cheiros, cores, formas, e é para usar mesmo! Acompanhadas de castiçais simples ou rebuscados, comprados, ganhos, feitos, encontrados. Os encontrados, eles sempre escondem mais do que a forma, eles
possuem o mistério da origem e uso, principalmente quando os encontramos entre coisas da família... Eu tenho um assim, com um pequeno cupido como base e três receptáculos para velas acima dele, em prata, da minha avó. Vivia escuro, e parecia que pedia auxilio...o limão veio e o deixou reluzindo...mas nunca soube o que ele fez antes, e com quem!
Livros, não são apenas livros, na casa da Bruxa, eles são inesgotável fonte de prazer...e de saber, lógico. E não costumam ficar muito tempo parados, ou viram meio de troca, por outro livro, ou sempre serão lidos e relidos. Teias de aranha não aparecem nas estantes desta casa. E nelas, nas estantes, mais coisinhas com significados pequenos e grandes...
Bruxinhas ganhas, daqueles que nos sabem Bruxas, e acham super pertinente que ganhemos bruxas sempre...bem que podiam mudar o menu...porque há tanto nesse vasto
universo que agrada a Bruxa!!!
Pequenos mimos em origami, com papel colorido, que nossas crias fizeram e trouxeram como 'tesouros'. Quadros por eles executados, e que aos nossos olhos são mais do que traços de aquarela, pois podem estar nos dizendo algo, algo valioso nesse belo código que é a arte. Fora que sempre haverá neles, nos quadros, porções da essência dos nossos filhos...
Mandalas formosas sutilmente impelindo a harmonia e a paz... Pentâculos de cobre, madeira, cerâmica, triskles pirografados, desenhados, porque queremos que a simbologia e seu significado consagrem nossos espaços.
Colheres de pau decoradas, e que sem saber o seu sentido e uso para nós, a "tia da escola" ajudou a fazer, e hoje ficam lá na minha cozinha.
Imagens de deuses e deusas, passeiam pela casa da Bruxa, não ficam estagnados naquela prateleira dedicada a objetos que coletamos em viagens ao exterior...ou em compras por encomenda, não, elas visitam os cômodos, de acordo ao nosso estado de ânimo, e ao redor delas, montamos altares, altares interativos, belos, singelos, ou extremamente elaborados...E com utilidade imediata. Pois nossos altares, são isso mesmo 'consumíveis', não somente para agradar aos olhos ou compor o ambiente. Neles brilham as chamas das velas, incensos perfumam o ar, oferendas vão e vêm lá. Flores e pedras também têm o seu lugar.
As cozinhas, mantemos arejadas, muito limpas" e arrumadas. Potes de temperos ganham desenhos especiais; pontos de luz e energia, feitos com sal grosso, ervas (sálvia, tomilho, alecrim...) e cabeças de alho, bem localizados, tomam conta de muitos recantos. Pauzinhos de canela enfeitam e atraem abundância, em pequenos caldeirões ou xícaras. O fogão dorme coberto com um paninho de prato especial, presenteado, por uma amiga, grande bruxa, de outros tempos, a Bete, companheira de divagações, antes da vida de bruxa casada. Com delicados pontos de cruz, prenunciando bons augúrios, para a casa que um dia iria habitar. Aliás, foi ela quem me apresentou o mundo do
tarô, quando eu nem imaginava que um dia eu seria uma taróloga, mas como ela nenhuma.
Bagunça, nunca, nem poeira, nem sujeira, e isso, não sei qual a razão, pois foge à minha vã filosofia, é tão complicado de entender por minha secretaria, a quem quero bem... Então se tornou ensino diário, mostrar como é saudável e bom, casa arrumada e limpa. Casa cheirosa, e leve, casa sem limo, sem lixo, e com lixo orgânico separado daquele que teima em não se decompor.
Vinhos não podem faltar, onde já se viu, Bruxa sem adega? Ou pelo menos com um bom estoque de garrafas de vinho? Por ser bem básico, nos afazeres ritualísticos, não pode faltar... E taças, de todos os tamanhos e formas, entre tanto eu prefiro aquelas grandes, com cristal sonoro. Há quem pense que somos mineiros, pois pedras andam como que jogadas, esquecidas em mesas, jardins, prateleiras...mas é que cristais, são parte do mundo, daquele mundo que não vemos, mas que podemos sentir ao tocá-los.
Assim como as inúmeras caixas de incensos (viva os de massala!) perfumando mesmo sem estar acesos.De todos os tipos e origens,os indianos,os nacionais,os franceses ( Terre d'Oc), os japoneses, os chineses... Sou viciada neles, e em colecionar Tarôs...Caixas com eles bem guardadinhos decoram quase toda a casa.
Música acompanha a Bruxa pelos corredores e recintos da casa. Música de todo tipo. Variando com as marés que vivenciamos. Música dentro e fora da Bruxa.

Algumas somos ou não "naturebas", como diz o povo; vegans, ou mais conscientes quanto à nossa mesa, ao que a ela vêm. E isto atrelado a uma prática eco-espiritual, pois entender a dinâmica da Terra Mãe, e como lidar com ela, é por demais interessante no mundo das Bruxas. Quiçá por isso, os jardins detêm um certo poder de captar nossa total atenção, em amanheceres ou anoiteceres. Qual Bruxa não degustou, com extremo prazer, ficar deitada na grama à noite? Ou andar descalça, nela orvalhada pala manhã?
No quesito alimentação, temos o hábito de ler, com acuidade, etiquetas e marcas, ler e entender essa complexa linguagem que empregam para dizer e listar ingredientes e compostos. Por saber quão sagrado é nosso corpo. E como pode ser fatal e acumulativa a ingesta de produtos saturados quimicamente. Porém tudo sem extremos e medos renitentes, que possam nos tornar psicóticas...ou maníacas por doença. Até porque, normalmente, somos muito saudáveis as Bruxas, e empregamos muito do que em nosso jardim floresce no preparo de comidas, chás e, vejam só, em tratamento cosmético da
nossa beleza!
Assim sendo, nossos jardins, são bem cuidados e cultivados. Neles, celebramos nossos rituais, nossos encontros familiares, nossos momentos de leituras e divagações. Os decoramos com gnomos, caracóis, cogumelos, tartarugas, sapinhos, de cerâmica, de madeira. Mesas e cadeiras, ficam lá, dia e noite, esperando por horas do chá, por encontros sob a Lua, regados a vinho...Por crianças correndo e brincando ao redor delas.
Na casa da Bruxa pode haver crianças! Não as comemos no jantar, e sim fazemos o seu jantar! Elas, as herdeiras da Bruxa, também cuidam dos seus cômodos, no estilo da Mãe Bruxa, com magos, bruxas, fadas, caldeirões e,algumas vezes, cartas de tarô, compondo o universo infantil dos pequenos pagãos, que acompanham a Bruxa em seus ritos, em suas práticas de limpeza da casa, em suas danças circulares, que os atraem com imãs.
Se somos internéticas? Somos, pelo menos muitas. E assumimos sem vergonhas! Então nesta casa mágica, há o espaço onde mora o importante PC...com sua acompanhante a impressora. Mas nesse canto também se toma cuidado com o ambiente, com os fluidos, e suas ações. Quantas amizades verdadeiras teci usando esse PC? Verdadeiras? Poucas, porém profundas. Quantas pessoas maravilhosas conheci? Muitas, e que posso torná-las amigas verdadeiras. Sem o PC como conheceria eu a Siu (minha mamy da alma)? A Bel? Minha irmã-amiga-mãe? O Derevian, meu Dragón, que me dá força quando mais preciso?
O Vulcanus, que levanta a poeira desde lá do outro lado do mundo? Mi jefecito, o zar Drake? Que tirou tantas dúvidas espirituais e mitológicas da minha mente. Minhas amigas? As Bruxas de verdade, com as quais troco figurinhas? (Pietra, Dani, Inês, Kytanna, Rita, Katha, a Lú)... O Malhado, meu Guapo, e nossas infindáveis trocas de e-mails? E mais outras tantas pessoas que valorizam o que escrevo, que manifestam seu apreço... Sim, o PC e a banda larga, são coadjuvantes das Bruxas. Pois, mediante esses contatos, conheci em pessoa o Laurus, sentei com ele à minha mesa, sentei com
ele no meu jardim, tomamos cafezinho e papeamos muito...

Guarda-roupas, guardam mais do que roupas...Mas sempre em ordem e higiene, pois lá ficam nossas peças mais íntimas, aquelas que entram em contato direto com nosso corpo, com nossa pele, com nossa "persona". Guarda no meu quarto, meu lindo Livro Secreto, conhecido por outros como o das Sombras; presenteado por um ser querido, que lembra o nome de um filme:
Nunca te vi, sempre te amei...O Júlio César, livro que viajou longas jornadas até chegar aqui. E que trouxe consigo um pouco do Júlio (a sua arte, a sua labuta para confeccioná-lo) e seu amor.
Perfumes, águas de cheiro, apetrechos de beleza, porque somos vaidosas e belas, as Bruxas de hoje, as Bruxas de verdade.
Há, na casa da Bruxa e no seu mundo, todos os sentimentos, do amor à raiva, pois não cultivamos a premissa de manter acorrentadas as emoções, para "parecer" melhores pessoas. Somos melhores pessoas por saber lidar com essas alterações de humor e
alma. No mundo da Bruxa, a casa é seu mundo, e o mundo é a sua casa. Nesse mundo não há divisões especializadas, há o todo, há o cada, mas sem separatismos, sem segmentações, onde a essência do viver e saber viver se perdem. Nesse mundo, o mundo da Bruxa, o concreto e o invisível coexistem tranqüilamente e com credibilidade; o real, palpável e o "outro mundo" são respeitados plenamente e reverenciados.
No nosso mundo, somos nós os roteiristas e jamais responsabilizamos aos demais pelas péssimas escolhas que fizemos ou faremos, mas saímos desses processos mais "pessoas", mais "bruxas".
Somos especiais? Claro que sim, porque do nosso olhar nada escapa, nem dos nossos sentidos. Então o mundo é por nós apreendido de forma mais sutil e completa do que por outros olhos... A vantagem disso? Saber mostrar esse mundo aos outros. Ou quem sabe compartir nosso mundo com quem o deseje.
A Bruxa e seu mundo são simples e complexos, mas nada soturnos, nem amedrontadores. Eis, creio eu, um mundo gostoso de ser vivido.
Besos de La Bruja en su Casa!

Luciana Onofre
São Luis, MA. 20/05/2007

sexta-feira, 23 de maio de 2008

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A todos...


a todos trato muito bem
sou cordial, educada, quase sensata
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
expulsa do paraíso
uma mulher sem juízo, que não se comove
com nada
cruel e refinada
que não merece ir pro céu, uma vilã de novela
mas bela, e até mesmo culta
estranha, com tantos amigos
e amada, bem vestida e respeitada
aqui entre nós
melhor que ser boazinha e não poder ser imitada.

Martha Medeiros

Não digas nada


Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa
(1888-1935)

Cor-respondência


Elisa Lucinda

Remeta-me os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem feito
que voce tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era o seu jeito
ou de propósito
mas era bom, sempre bom
e assanhava as tardes.
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.

domingo, 11 de maio de 2008

voando do penhasco

Gosto dos venenos mais lentos,
das bebidas mais fortes,
de drogas naturais que se planta na horta,
dos pensamenos mais complexos
e dos sentimentos mais intensos.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais doidos.
Você pode até me empurrar de um penhasco,
mas não adianta, pois eu vou te dizer:
E daí? Eu adoro voar... Mário Quintana

Esses meninos de Toulouse



Nesse poema, quis escrever algumas coisas sobre "os meninos de Toulouse", que têm se revelado camaradas tão generosos, entusiastas e solidários, demonstrando serem possuidores das mais valiosas características internacionalistas e revolucionárias.

A saudade faz parte do nosso cotidiano internacionalista e traz consigo o sabor de novos e próximos reencontros.

Esses meninos de Toulouse


A vossa presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
Francolatinizada e colorida
A vossa presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
Nas pontes, calçadas e avenidas
A vossa presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
Se espalha pelo campo, derrubando as cercas
A vossa presença
É tudo que se come, tudo que se reza
Transborda oceanos, esvazia a tristeza
A vossa presença
Me lava a alma de liberdade, coragem,alegria
Me faz querer ir muito longe...viagemmmmm
A vossa presença
De sintonia fina e certeira
Almas parecidas e andarilhas
A vossa presença
é energia positiva e infindável
Vinda desses moços
é a coisa mais linda, ainda que na ausência
A vossa presença.

Natal/Brasil, 5ª lua crescente de 2007.

Que venha essa nova mulher de dentro de mim

"Que venha essa nova mulher de dentro de mim,
Com olhos felinos felizes e mãos de cetim
E venha sem medo das sombras, que rondam todos os corações
E ponha, nos sonhos das mulheres, a sede voraz da paixão
Que venha de dentro de mim ou de onde vier,
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das onças e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher.
Livre, livre, livre para o amor.
Quero ser assim,quero ser assim
Senhora das minhas vontades e dona de mim."

Marcha da Vida


Ando devagar porque já tive pressa,
E levo esse sorriso porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Só levo a certeza de muito pouco eu sei, ou nada sei..

Sinto que seguir a vida seja simplesmente
Conhecer a marcha e ir tocando em frente.
Como um velho boiadeiro levando a boiada
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou,
Estrada eu sou.

Cada um de nós compõe a sua história,
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz,
De ser feliz.

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder seguir,
É preciso a chuva para florir...

DES de tudo



Desarregace suas mangas e mude.
Mude, mas não emudeça!
O grito causa dor de cabeça,
No entanto eles querem te calar.

Desconstrua o discurso instituído
Institua, mas não institucionalize!
A burocracia é a linha divisória classial,
No entanto eles produzem jurisprudência.

Desagregue-se dos padrões estabelecidos.
Estabeleça, mas não padronize!
Os modelos sufocam as subjetividades,
No entanto eles os propagam.

Descarregue o cérebro ultra-informado.
Informe-se, mas não formalize!
Absorvemos muitas informações por minuto,
No entanto eles as bombardeiam.

Desconecte-se dos valores divulgados.
Divulgue, mas não imponha!
Existem interesses de mercado,
No entanto eles alienam.

Destrua os imperativos!
Desacate a autoridade!
Desapegue dessa identidade,
Desafie a calamidade.

Desconsidere a publicidade, porque:
Desconfiar não custa nada,
Mas acredite enquanto estiver na jornada,
Até que se desfaleça dessa vida “emprestada”.

Lila LaMour.

sábado, 10 de maio de 2008

Querer sem ter coragem


"Fecho os olhos
Num instante me vêm uma lembrança tua
É inevitável não sentir tua falta.
Meus pensamentos então se voltam em um único objetivo;
Ter você aqui, tê-lo para mim.

Hoje não quero apenas beijá-lo com ternura;
Quero beijá-lo com malícia, quero sentir teu coração bater mais forte.
Quero prová-lo, experimentá-lo.
Vem e deixa-me possuí-lo

Quero escorregar minhas mãos em teu corpo;
Passear com minha língua sobre tuas coxas
Mandar arrepios para tua espinha
Sentir cada pedacinho teu, és hoje o meu desejo.

Hoje quero sentir novamente a essência de te ter em meus braços;
Quero alcançar a utopia;
Quero tocar o mistério
Quero dizer-lhe pornografias em seu ouvido
Quero gemer para você, amor

Eu te quero nu, eu te quero louco
Quero ser tua e quero que sejas meu
Toca-me, faça-me mulher mais uma vez.
E deixe-me novamente lhe fazer homem."

Sara Babel

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Filtro dos Sonhos


"Depois do primeiro toque que te fez abstrair

Que me fez sugar de ti essa energia fugaz

Despertou a bruxa em mim, sem culpas e sem receios

Revelou-se o bruxo em ti, o aprendiz de feiticeiro

No entanto, as faces ocultas e os desejos insepultos

Nossos momentos alegres, nossas brigas e insultos

Não me deixam conhecer-te, não te mostram para mim

Pois teu cerne nebuloso abriga muitos de ti

O andrógino tão tímido, o machista sedutor

O menino de olho murcho, inseguro, encantador

Às vezes tão solidário, às vezes tão prepotente

Tantas vezes intuitivo, outras vezes tão descrente

E o tempo com seus ciclos, nos escraviza e incendeia

E é assim que o destino nos manipula em sua teia

Assim como a teia firme do filtro dos sonhos faz

Eu também tento existir sem danos, sem olhar pra trás

Mas a lembrança de ti e o uivo do Vento Norte

O peso do teu olhar, a boca e o abraço forte

Passam ilesos e nítidos, povoando meu sonhar

Pois só retém pesadelos, maus algoros e o azar

E é por isso que em meus sonhos te recebo a qualquer hora

Pra cultivar a utopia e possuir-te na Aurora

Em meus sonhos, teu semblante, tua energia e teu beijo

O bruxo que existe em ti, que há tanto tempo não vejo

Me faz crer que o universo conspira por esse encontro

Driblando o filtro dos sonhos, com gozo, alegria e pranto."



Sara Babel

03/05/2008

A Teia da Vida



Filtro dos Sonhos

Os videntes nativo–americanos ensinam que a Grande Aranha, teceu a Teia do Universo para relacionar todas as coisas. (Enquanto teço este texto, reflito que o mundo todo está ligado por uma "WEB" = teia em inglês). Para eles, a Aranha ao mesmo tempo é Avó e Criadora que cria novas energias dentro da existência. Ela tem a "Medicina da Criação".

Num dos mitos da Criação, conta-se que no inicio do mundo só havia escuridão, os povos andavam às cegas, e viviam se colidindo, uns com os outros. A vovó aranha que trouxe o sol e o fogo aos índios e ensinou-lhes também a arte de fazer a cerâmica.

Conta uma velha lenda dos nativos norte-americanos, que um velho índio ao fazer uma Busca da Visão no topo de uma montanha, lhe apareceu IKTOMI, a aranha, e comunicou-se em linguagem sagrada. A Aranha pegou um aro de cipó e começou a tecer uma teia com cabelo de cavalo e as oferendas recebidas

Enquanto tecia, o espírito da Aranha falou sobre os ciclos da vida, do nascimento á morte e das boas e más forças que atuam sobre nós em cada uma dessas fases. Ela dizia :

"Se você trabalhar com forças boas, será guiado na direção certa e entrará em harmonia com a natureza. Do contrário, irá para direção que causará dor e infortúnios".

No final a Aranha devolveu ao velho índio o aro de cipó com uma teia no centro dizendo-lhe:

"No centro está a teia que representa o ciclo da vida. Use-a para ajudar seu povo a alcançar seus objetivos, fazendo bom uso de suas idéias, sonhos e visões. Eles vem de um lugar chamado Espírito do Mundo que se ocupa do ar da noite com sonhos bons e ruins. A teia quando pendurada se move livremente e consegue pegar sonhos, quando eles ainda estão no ar. Os bons sonhos sabem o caminho e deslizam suavemente pelas penas até alcançar quem está dormindo. Já os ruins ficam presos no círculo até o nascer do sol, e desaparecem com a primeira luz do novo dia"

Esse círculo é conhecido como "dreamcatcher" (apanhador de sonhos). Aqui no Brasil é chamado de Filtro dos Sonhos ou Coletor de Sonhos.

Trata-se de um instrumento de poder para assegurar bons sonhos para aqueles que dormem debaixo dele, e também para trazer visões.

Geralmente são colocados onde a luz bate pela manhã, em frente a janela. Os nativos nos ensinam que os sonhos passam pelo furo no centro e os maus sonhos ficam presos na teia e se dissipam à luz do amanhecer.

Você poderá colocá-lo no seu quarto, escritório, ou até no berço ou carrinho do bebê. Os nativos ensinam que os bebês ao verem a pena balançar com o vento, se entretêm e aprendem a importância do ar. Ele é feito na forma de um círculo, tradicionalmente com galhos de Salgueiro. É feita uma rede na forma de uma teia de aranha com uma abertura ao centro. Tem muitas lendas de origem, de acordo com cada tribo e também diferentes formas de tecer.

É uma mandala. Segundo Jung, a mandala se encontra na própria alma humana, aparecendo nos sonhos e em diversas imagens criadas pelo nosso inconsciente. O Circulo

Representa, o Círculo da Vida. As rodas, ou círculos, representam a totalidade. O círculo é o símbolo do Sol, do Céu e da Eternidade. No simbolismo ancestral o círculo é o símbolo do espaço infinito, sem começo e sem fim.Qualquer que seja a representação simbólica em qualquer era e em qualquer cultura, um Círculo de Poder, serve como um espelho, onde podemos ver o reflexo do Universo e o Grande Tudo, que contém a totalidade, trabalhando para o entendimento dos mistérios da vida, do cosmos, e das leis naturais. A Teia e a Pena

Os fios da teia, que são ligados ao círculo, podem ser tecidos em 7 pontos (7 profecias) 8 pontos (8 pernas da aranha = oito direções sagradas ), 13 pontos (13 Luas), variando de acordo com cada tradição e intenção.

Pode ser colocada uma pena no centro, simbolizando a respiração, o elemento ar, e em alguns são colocados uma pedra/cristal. Tudo o que é colocado possui um significado.O Centro da Teia

Corresponde ao Grande Mistério, o Criador, a Força que abrange o Universo inteiro.

Coloque seu filtro de forma ritualística. Isso é o que diferencia um adorno de um instrumento de poder. Purifique antes o ambiente, o próprio filtro, e coloque sua intenção. Faça sua própria cerimônia. Peça proteção para o lar, família, pensamentos.

Atualmente muitas lojas vendem filtro dos sonhos, alguns industrializados com penas coloridas, espelhinhos. Particularmente, prefiro algo mais tradicional, mais rústico, feito artesanalmente com cipós colhidos, com preces e orações. Você poderá comprar em lojas ou aprender a fazer numa oficina de confecção (acho mais interessante !)

No xamanismo evoca-se a essência espiritual da aranha para compreender melhor a "teia da vida", para evocar a criatividade e a imaginação. Inspira a visão e o poder para trazer nossos sonhos até a realidade. Para se obter independência e coragem, para rompermos com armadilhas que criamos, sejam emocionais ou espirituais. Para rompermos a teia da ilusão, construirmos novos sonhos, para sonharmos mais, para tecermos nossa própria vida.

Bons Sonhos !

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Camarada d'água

>O Teatro Mágico - Camarada D'água
Danilo Souza e Fernando Anitelli

Camarada, d'onde vem essa febre
Nossa alegria breve, por enquanto nos deixou...
Camarada, viva a vida mais leve
Não deixe que ela escorregue
Que te cause mais dor

Caixa d'água guarda a água do dia
Não cabe tua alegria
Não basta pro teu calor
Viva a tua maneira
Não perca a estribeira
Saiba do teu valor

E amanheça brilhando mais forte
Que a estrela do norte
Que a noite entregou!

domingo, 20 de abril de 2008

Em noite de Lua cheia


"Olhando o sagrado de azul caribenho,
Ainda sofrendo por medo de amar.
Índio? Negro? Pardo? Mutante além-mar?
Tampouco se sabe quais são seus desejos.
Segredos machistas ou vil pensamento?
Andrógino ébrio que cheira a pomar,
Bebendo desnudo à luz do luar.
Enquanto a carcaça é cor de degelo,
Seu timbre é latino, seu gozo é vermelho,
A boca é o sobejo pra rir ou chorar."

Sara Babel

De moi

De moi

Je plante des rêves, récolte vie.
Je montre l'âme gitane, fais des amis et veux connaître leurs routes.
Heureux et guerroyant.
Chant, bien ou mal, pour étonner mes maux.
J'écris, mal ou bien, pour savoir qui je suis.

Je suis du monde…
Mon esprit se place dans les frontières du Réal et du rêve.
Mon esprit, entre les brumes et le clair de lune.
Je suis des mystères de la mer, des Conseils du vent et des sorcelleries.
Je garde les amis mange des parfums des fleurs.
Je garde les espoirs, mange des rayons du soleil.
J'ai un ciel étoilé et un clair de lune qui est seule mien,
dont et, en même temps, c'est aussi il savoir regarder.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

(...)"Faz dança, cozinha,
se balança na rede
E adormece em frente à bela vista
Despreocupa-se e pensa o essencial
Dorme e acorda(...)
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes
Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro
Namora e é amiga
Tem computador e rede,
rede para dois
Procura o amor e quer ser mãe,
tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro mas prefere cinema
Sabe espantar o tédio,cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto,
é infinita, sensível, linda (...)
Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda"

(versos de "Gerânio" - Nando Reis/Marisa Monte/Jennifer Gomes)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Fotos do sobrinho fofo

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Uma parede da intifada bordada, exposta no ANAT Workshop em Damasco, figurando duas mulheres Palestinas em trajes tradicionais e guerreiros com turbantes e estilingues.


"Quando nasci, um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto, escrevo.

Cumpro a sina.

Inauguro linhagens,

fundo reinos— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável.

Eu sou".



Adélia Prado

08 de março de 2008 em Natal/ RN/ Brasil















DECIFRA-ME
Andréa Lima

Lanço mão dos guardados de dentro de mim,
dos frascos de coragem, audácia, combatividade e malabarismos para enfrentar o dia-a-dia,
a labuta, os preconceitos,
a violência covarde e sexista.
Eu sou essa dialética feminina
que me revolve por dentro e por fora,
que se faz presente na marcha pela história.
Eu sou as contradições, o sexto sentido que funciona,
o olho que vê mais adiante da janela,
a avidez da aurora,
as cores múltiplas e ousadas do arco-íris,
eu sou a esperança verdejante e primaveril.

Sou, também, o próprio escárnio, o beijo adocicado
ou aquele cheio de pecado cheirando a inferno.
Sou o canto das DIVAS,
som dos soluços que ecoam dos rios de lágrimas
que se formam meio à aridez do deserto,
sou o som dos tambores afros,
da poesia agridoce e moderna de Hilda,
da pintura brasileiríssima de Tarsila,
sou o som das mulheres de Tejucupapo,
o som ignominioso e horrendo das mulheres violentadas,
machucadas, despedaçadas.

Mas há em mim o que nunca se sacia: o refazer...
De ser lirismo face a escuridão,
de ser a liberdade mediante à proibição,
de ser o grito quando se exige o silêncio,
de ser a flor quando os canhões já anunciam
em quase toda parte do mundo o estado de terror.
Eu sou essa mística
que se fabrica no altar da luta,
pétalas de tantas Rosas Luxemburgos,
de tantas Florbelas,
de tantas Antônias, anônimas e Quitérias..."

















Aviso da lua que menstrua
Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro, transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..."

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Cerejas, meu amor




"Cerejas, meu amor,

mas no teu corpo.

Que elas te percorram

por redondas.

E rolem para onde

possa eu buscá-las

lá onde a vida começa

e onde acaba

e onde todas as fomes

se concentram

no vermelho da carne

das cerejas..."


Renata Pallottini

domingo, 6 de janeiro de 2008

Sonetos

"Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 451.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Olho é pra piscar?


"Meus olhos arregalados

não piscam para qualquer um ,

nem fecham para qualquer medo".


Marta Medeiros

MANDALA DE LILITH

"Eu quero te dar
O limite das Praças
Ruas e Vielas
As fronteiras do Mundo
Imaginário ou real
Com seus Amuletos e adornos de prata

Eu quero te dar
O umbigo da terra
A primavera distante
Reordenar as entranhas
Desajustar os relógios
Gaseificar o instante

Não se permita duvidar do sonho
Nem ser descrente do riso
Que preenche o horizonte
Tal qual faz com a vida.